terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Walter White e o Miami Marlins

"I am the danger"

Walter White, ou Heisenberg, ou Mr. White, ou, simplesmente, WW. Um dos personagens mais aclamados das séries de TV atualmente, vivido por Bryan Cranston e que vai ao ar todos os domingos à noite no canal americano AMC pela série Breaking Bad. Você já assistiu? Não? Deveria.

De qualquer jeito, segue um pequeno resumo: Walter é diagnosticado com um câncer agressivo no pulmão e “surta”. Para fazer dinheiro antes de morrer e não deixar sua família na mão, Mr. White resolve utilizar seus conhecimentos de química e começa a produzir Metanfetamina. Logicamente isso não é legal, e o dinheiro que ele faz com isso é considerado sujo. O que ele precisa fazer? Lavar esse dinheiro.

Walter tem várias opções. Pode comprar um salão de belezas, um posto de gasolina, uma loja no shopping. Quem sabe até um time de Baseball? Um time de Baseball!? Quem compra um time de Baseball para lavar dinheiro? Bem, na série, ninguém. Na vida real? Hum...

Jeffrey Loria é o dono do Miami Marlins. Antes de comprar o time da Flórida, Loria foi dono de um time Triple-A, o Oklahoma City 89ers. Vendeu a equipe em 1993 e foi atrás de uma franquia da Major League. Seu desejo inicial era adquirir o Baltimore Orioles, em 1994, mas não conseguiu.

Cinco anos mais tarde, Loria compraria 24% do Montreal Expos (que viraria o Washington Nationals) por 18 milhões de dólares. Conversa vai, conversa vem e, com uma função de gerenciamento na franquia, o nosso personagem acabou com 94% dos Expos! Até hoje não se sabe como.

Dono do pedaço, Loria começou a forçar a cidade de Montreal a “ajudá-lo a manter o time por lá.” Coitadinho, ele tinha a melhor das intenções. Mas se a cidade não ajudasse a ter um novo estádio, seria difícil não sair do Canadá e procurar um novo mercado. O Primeiro-Ministro de Quebec (sim, eles têm um!) disse que era impossível retirar o dinheiro de impostos para construir um estádio, enquanto estavam fechando hospitais por falta de verba.

Loria assitindo a um filme em 3D.
Em 2002, Jeffrey Loria, Bud Selig (comissário da MLB) e John Henry, então dono dos Marlins e atual dono dos Red Sox, se juntaram e fizeram uma maracutaia interessante. Os 29 outros times da MLB compraram o Montreal Expos, Loria comprou o Florida Marlins (e recebeu um empréstimo sem juros da MLB) e John Henry teve seu caminho facilitado para comprar o Boston Red Sox.

Assim, os Expos deixariam o Canadá e partiriam para a Capital estadunidense. Mas não sem os antigos parceiros de Loria o processarem por extorsão, corrupção e crime organizado. Não deu em nada, mas a gente pode ter ideia das coisas boas que o senhor vinha fazendo.

Na Flórida, não foi muito diferente. Com pouco tempo, Loria já começava a pedir um novo estádio. É verdade que havia um time de baseball jogando num estádio de futebol americano e, quando os calendários batiam, dava para ver um belo símbolo do Miami Dolphins no infield dos Marlins. É verdade também que o povo da Flórida não ia ao estádio, e que ficavam no sol quando iam, já que um Ballpark é muito diferente de um estádio de futebol americano.

Mas mais verdade ainda é que Loria, novamente, começou a chantagear para conseguir o que queria.  Em 2003 os Marlins foram campeões da World Series, mas, em 2005, Loria fez questão de desmontar aquele time. “Não posso continuar perdendo dinheiro.” A pressão aumentava. Loria alegava que logo iria falir e o Baseball iria sumir da Flórida. Que vergonha! Único estado americano sem um time de Baseball.

"Uma ode ao desperdício de dinheiro público"
De qualquer modo, parece que deu certo. Primeiro, comissários do Condado de Miami-Dade cederam. Estavam dispostos a construir um estádio com dinheiro público. Logicamente que nem todas as autoridades foram a favor do derrame desse capital. A comissária Katy Sorenson chegou a declarar: “Nós continuamos ouvindo ‘Se você construir, eles virão’. Eu não acredito nisso. E esse ‘Campo dos Sonhos’ vai virar um pesadelo para os contribuintes.” Depois de muito vai-e-vem, a cidade de Miami também entrou na dança para financiar o estádio. No fim das contas, o Miami Marlins pagaria menos de 20% do valor total para ter um novo Ballpark.

O negócio estava tão estranho que a Comissão de Segurança e Transações começou a investigar por que o Estado topou financiar 80% de uma construção para uma equipe de Baseball sem mesmo verificar as contas e balanços da mesma. Loria alegou que estaria falindo, mas não estava. Simplesmente acreditaram que o dono da franquia estava perto da bancarrota, e resolveram “ajudá-lo”.

Finalmente, Loria conseguiria seu estádio. Deixando um ônus de 2,6 bilhões para o governo nos próximos 40 anos, o Miami Marlins inaugurou o Marlins Park em 2012. Loria encheu o time de estrelas: Jose Reyes, Josh Johnson, Mark Buerhle e por aí vai. Era tudo uma maravilha, time chegou a ser considerado um dos mais fortes para a temporada. Ele pagaria os salários, o Governo o estádio e os custos de manutenção.

Stanton é a única estrela do Miami que economiza com salários
Mas os Marlins se deram muito mal em 2012. Em vez de analisar o que fez o fracasso da equipe, Loria simplesmente passou adiante quase todos seus talentos a preço de banana, ficando apenas com Giancarlo Stanton. Faz sentido? Primeiro, queria que o time gerasse lucros. Quando tinha um elenco capaz de fazer isso, desfaz?

Nessa semana, o dono da franquia declarou que só tem recebido elogios para o seu trabalho. Falou que em um evento, 20 a 30 pessoas vieram comentar que “ele fez o que tinha que ser feito”. O que Loria quer mais do Baseball? Acabar com o esporte em uma outra cidade? Encher os bolsos e sair por aí, comprando franquias, destruíndo-as e deixando o ônus para quem quiser se arriscar no meio?

Para quem tem um histórico como esse, a situação atual do Miami Marlins é muito suspeita. Mas parece que Loria tem as costas bem quentes e, nem tão cedo, será colocado no devido lugar. Eu não sei se ele tem câncer e quer garantir o futuro dos netos, ou se produz Metanfetamina. Mas alguma coisa ele faz.

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